O olfato é um dos sentidos mais complexos, e ainda pouco explorado, do corpo humano. Junto aos demais sentidos, permite que sejamos capazes de interpretar e compreender os ambientes ao nosso redor.
Por meio dos aromas, cheiros e fragrâncias, somos capazes de criar e reativar memórias, perceber situações de perigo e, até mesmo, reconhecer pessoas e lugares.
Disfunções relacionadas a esta área, desencadeiam problemas sensoriais, que podem comprometer a segurança e a qualidade de vida do indivíduo.
A Laszlo apresenta uma pesquisa, com dois estudos de caso em condições muito similares, onde avaliou-se a correlação entre a dificuldade olfativa e a deficiência de vitamina D no organismo.
Encontrar as doses corretas de ingestão diária de vitaminas, pode ser uma tarefa desafiadora. Os valores sugeridos podem variar, como é o caso da vitamina D. Nesta conjuntura, as necessidades individuais de cada paciente devem ser baseadas em seus níveis séricos. Este termo é usado pela comunidade médica, para designar a quantidade de uma determinada substância no sangue.
No caso da vitamina D, os níveis séricos são medidos pelo exame de sangue do tipo (25[OH]D), onde a deficiência de vitamina D é definida com quantias inferiores a 17.5 nmol/L (6.8 ng/mL) e considerada insuficiente em um nível menor que 62.5 nmol/L (25 ng/mL).
Um estudo realizado nos Estados Unidos revelou que 87% dos pacientes clínicos no país, também possuem algum grau de deficiência de vitamina D. No entanto, poucas evidências guiam os profissionais de saúde no diagnóstico da carência deste nutriente.
O fato é preocupante, pois a deficiência da vitamina D pode estar associada a uma variedade de condições recorrentes, como fraturas em idosos, problemas cardiovasculares, incidência de câncer de mama, pâncreas e colorretal, dentre outras.
Casos de anosmia e hispomia, disfunções onde há perda parcial ou completa da capacidade olfativa, são potenciais exemplos para um teste de triagem na deficiência de vitamina D.
O primeiro caso da pesquisa relatada, consta em uma mulher de 47 anos, não fumante e histórico de hispomia, onde há perda parcial da olfação. Apresentando sintomas como fadiga, depressão, mau humor, dores de cabeça e problemas de memória, procurou um médico alopático. Seu quadro também incluía perda da capacidade olfativa, entretanto este sintoma não foi relatado ao médico pela paciente.
Chegou a realizar tratamento com quiropraxia, terapia para dores e desajustes na coluna, e uso de medicamentos antidepressivos. Este último, no entanto, foi suspenso por provocar rigidez muscular na paciente.
Após a realização de extensos exames, sem nenhuma causa pontual encontrada, foi constatado que seu nível sérico de vitamina D estava abaixo de 23 ng/mL. A paciente então passou a receber 10 000 UI* de vitamina D por dia e após oito meses relatou diminuição dos seus sintomas, especialmente na depressão.
Com um mês de suplementação, ocasionalmente, percebeu que recuperava sua capacidade olfativa, estado que progrediu ao longo dos oito meses. A paciente revelou que antes da adição da vitamina, era incapaz de sentir cheiros de cigarro ou comida estragada na geladeira, não percebia quando queimava os alimentos, e também os servia estragados nas refeições por não conseguir detectar seus cheiros.
O segundo caso estudado refere-se a uma mulher de 34 anos, não fumante, com histórico de anosmia, onde há perda completa da olfação. Queixava-se de depressão, dores de cabeça, fadiga e perda da energia para realizar suas atividades cotidianas. Também estava sob cuidados quiropráticos periódicos, para tratar dores no pescoço e costas, onde relatou sua dificuldade olfativa que se prolongava há anos.
Seus exames laboratoriais incluíram uma tomografia do cérebro e um painel metabólico abrangente, grupo de exames de sangue, que fornecem uma visão global do equilíbrio químico do corpo. Seus níveis séricos de vitamina D demonstraram resultados extremamente baixos, com níveis de 8,4 ng/mL, sendo que os limites considerados normais listam entre 30 e 100 ng/mL.
À esta paciente foi prescrito um antidepressivo e a suplementação de 50 000 UI de vitamina D3, uma vez por semana durante dois meses. Ela decidiu não tomar o antidepressivo e apenas utilizou a vitamina como foi receitado.
Um dia após tomar sua primeira dose, surpreendeu-se por conseguir sentir o cheiro de curry, enquanto uma amiga cozinhava. Ao longo das semanas seu nível sérico subiu para 29,0 ng/mL e sua capacidade olfativa foi melhorada de modo parcial, mas significativo. Passou a detectar cheiros fortes como alho, tempero e também a reconhecer odores desagradáveis como fezes de cachorro. Seus sintomas de depressão, fadiga e dores de cabeça também foram extinguidos.
Depois de completar oito semanas de tratamento, a paciente não retornou ao seu médico e novamente perdeu a sensibilidade do olfato. Seu nível sérico decaiu para 18,0 ng/mL e novamente foi submetida a suplementação. Ao decorrer dos dias, observou-se o mesmo padrão de retorno progressivo da olfação da paciente, em consequência a adição da vitamina em sua dieta.
DISCUSSÃO:
A perda da capacidade olfativa é uma ocorrência, relativamente, comum a medida que as pessoas envelhecem. No entanto, o problema pode adquirir proporções preocupantes e ainda é, em sua grande maioria, subestimado. As orientações médicas acabam por se basear em certos padrões de prognósticos clínicos e os pacientes, por sua vez, não costumam relatar suas dificuldades olfativas.
A vitamina D é um hormônio esteroide lipossolúvel e sua principal fonte de produção se dá por meio da exposição solar. Está presente em alimentos como carnes, peixes e frutos do mar, e também em alimentos como ovo, leite, fígado, queijos e cogumelos.
É conhecida por seus efeitos imunomoduladores, ou seja, por aumentar a resposta orgânica do sistema imunológico aos vírus, bactérias e demais micro-organismos. Isto explica sua correlação com doenças auto-imunes e inflamatórias como: artrite rematoide, lúpus eritematoso, diabetes tipo 1, esclerose múltipla, doenças inflamatórias no intestino, asma e doenças cardiovasculares.
Um extenso estudo, analisou por cerca de vinte anos, a atuação da vitamina D no sistema nervoso, com o intuito de analisar sua ação neuroprotetora. Os resultados mostraram que a vitamina D parece ter um efeito neuroprotetor sobre o sistema nervoso, promovendo um aumento da síntese dos fatores neurotróficos. Os roedores utilizados no experimento, ao serem submetidos a deficiência do nutriente, apresentaram quadros de anosmia e hispomia, apontando estas disfunções olfativas como uma potencial indicação para a insuficiência da vitamina no organismo.
O estudo apresentado, junto a análise das duas pacientes e seus resultados, demonstra não apenas a significativa influência da vitamina D no organismo, como também fomenta novos estudos relacionados ao nutriente.
Sua deficiência, e consequentemente a perda olfativa, podem desencadear estados de depressão, interferir nos hábitos alimentares e na ingestão nutricional, comprometendo a segurança e a qualidade de vida do indivíduo. Casos de anosmia e hispomia podem, portanto, ser potenciais indicativos da insuficiência do nutriente no organismo.
*UI significa unidade internacional, onde 1 UI= 0,025 microgramas de vitamina D.
Fonte: Laszlo
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