MÍSTICO?
Sem dúvida, Paracelso foi um místico.
Sua filosofia espiritual foi filha de seu precoce
conhecimento do neoplatonismo; tinha como base a união com Deus.
Mediante esta união o espírito
do homem procurava vencer as más influências, descobrir os arcanos da Natureza, conhecer o bem,
discernir o mal e viver sempre dentro da fortaleza divina.
Paracelso soube identificar a mão de Deus em toda a Natureza: nas entranhas das montanhas,
onde os metais esperam a sua vontade; na abóbada celeste, onde "por meio Dele se movem o sol e as
estrelas"; nas ribeiras, onde sua liberalidade derrama toda sorte de alimentos e a bebida para o
homem; nos verdes prados e nos bosques, onde crescem miríades de ervas e de frutos benfazejos; nas
fontes que proporcionam suas propriedades curativas.
Enfim, viu que a terra era a grande obra de
Deus e que era preciosa a seus olhos.
Paracelso era uma inteligência forte e clara. Era bom e também sábio. Sua vida errante jamais o
despojou dessa bondade que constantemente fez resplandecer os generosos impulsos de sua alma.
Sentia como um artista e pensava como um filósofo; por isso soube irmanar as leis da Natureza
com as da alma.
Esta sensibilidade artística que nunca o abandonava constituiu a ponte entre
Paracelso homem e observador visionário da Realidade, ponte maravilhosa que repousava sobre as
travessas de uma nova humanidade: a Renascença. E sobre esta ponte audaz procedeu à construção
do Universo, do qual Paracelso foi um de seus maiores arquitetos; pois, outra coisa não foi a
declaração dos princípios do progresso espiritual, completada um pouco mais tarde por Giordano
Bruno, poeta, filósofo, artista e investigador da Natureza.
Como as ondas do mar, o sentimento da Natureza se estendeu de Paracelso até os homens do
futuro, entre os quais Comenius e Van Helmont. Estes compreenderam, igualmente, a consagração
das investigações e a alegria inefável de descobrir as Leis Divinas.
Paracelso possuía essa
propriedade que ainda hoje admiramos nos místicos clássicos. Via a Deus tanto na Natureza como
no microcosmo e, pela meditação, foi tocado pela graça divina. Suas conclusões filosóficas
formam a moral de um humanismo cristão. A confraternidade íntima dos filhos de Deus deve
nascer de uma humanidade bem ordenada, do saber humano e do inapreciável valor da alma,
em cada um dos seus membros.
Este Universo de formas e forças infinitas e, em sua unidade e em sua interdependência, a
revelação das leis de Deus; a Natureza constitui o esteio e o verdadeiro amigo dos enfermos.
E
esta Natureza se acha em todas as partes: na terra, onde o semeador opera seus milagres, ao
confiar-lhe a semente; nas montanhas, onde morrem as árvores velhas para dar lugar às que nascem;
nas florestas murmurantes; nas sebes; nos lagos, onde o sol brinca com a água; em todos os lugares
está viva e eterna a mãe Natureza.
Paracelso emoldurou a Natureza com vistosas imagens, comparações acertadas, engenhosas
alegorias e parábolas de sentido profundo. Numa linguagem rica e substanciosa, apresenta-nos o
curso das estações, sua proximidade e seu fim. Pinta-nos a primavera, quanto os novos ritmos se
balançam álacres pelo ar; o verão, quando a jovem vida caminha rumo à colheita e o tempo revela os
frutos sazonados; o outono, quando o trabalho chega ao seu fim e a vida enlanguesce; e, finalmente,
descreve-nos o inverno, fazendo-nos sentir a doce visão de uma morte suave e tranquila.
Como bom cristão, seguiu os ensinamentos de Jesus. "O que Deus quer são nossos
corações — diz no Tratado das Doenças Invisíveis — e não as cerimonias, já que com elas a fé
Nele perece. Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo dentro de nós mesmos, pois fora de nós
jamais o encontraremos".
Toma como ponte de apoio a Vida e a Doutrina de Nosso Senhor,
porque nela está a única base de nossa crença:
"Ali está ela, na Vida Eterna, descrita pelos Evangelhos e nas Escrituras, onde encontramos
tudo o de que necessitamos, tudo em absoluto.
"Só em Cristo há estado de graça espiritual e por nossa fé sincera seremos salvos. Basta-nos a fé
em Deus e em seu único Filho. O que nos salva é a infinita misericórdia de Deus, que perdoa
nossos erros. O Amor e a Fé são uma mesma coisa: o amor deriva da fé e o verdadeiro cristianismo se
revela no amor e nas obras do amor."
Acreditava que a perfeição da vida espiritual fora designada por Deus para todos os homens e
não apenas para alguns anacoretas, monges e religiosos que não dispunham de nenhum mandato
especial do Senhor para tomar sobre si a exclusividade de uma santidade a que muito poucos
podem chegar.
"O reino de Deus — acrescenta Paracelso — contém uma revelação íntima com nossa vida de
fé e de amor, uma infinidade de mistérios que a alma penetrante vai descobrindo um por um.
São os
mistérios da providência de Deus, que todo aquele que investigar acabará encontrando; são os
mistérios da união com Deus; é o tabernáculo secreto, cujas portas se abrirão para todo aquele
que clame. E os homens que sabem perscrutar e chamar são os profetas e os benfeitores de seu
reinado. A eles são entregues as chaves que hão de abrir os tesouros da terra e dos céus. E eles serão
os pastores, os apóstolos do mundo."
Mais adiante fala da medicina, nos seguintes termos:
"A Medicina se fundamenta na Natureza, a Natureza é a Medicina, e somente naquela devem
os homens buscá-la. A Natureza é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele, e ela
existe dentro e fora do homem. Abençoado, pois, aquele que lê os livros do Senhor e que anda pela
senda que lhe foi indicada por Ele. Estes são os homens fiéis, sinceros, perfeitos em sua profissão;
andam firmes debaixo da plena luz do dia da ciência e não pelos abismos obscuros do erro... Porque
os mistérios de Deus na Natureza são infinitos; Ele trabalha onde quer, como quer, quando quer.
Por isso devemos investigar, chamar, interrogar. E a pergunta brota: Que categoria de homem deve
ser aquele que procura, chama e interroga? Quão verdadeira deve ser a sinceridade de tal homem!
Quão verdadeira a sua fé, sua pureza, sua castidade, sua misericórdia!
"Nenhum médico pode afirmar que uma doença é incurável. Se isto afirmar, está renegando a
Deus, renegando a Natureza, desaprecia o Grande Arcano da Criação. Não existe nenhuma doença,
por mais terrível que seja, para a qual Deus não tenha previsto a correspondente cura."
Conforme vimos, Paracelso era um místico e um cabalista perfeito, dentro do mais puro
espírito cristão. Aceitou, contudo, muitas das crenças tão em voga em sua época referentes aos
poderes ocultos e às forças invisíveis.
Acreditava, igualmente, na existência real dos dementais, isto é, nos espíritos do fogo, aos
quais dava o nome de acthnici; nos do ar, que chamava de melosinae; nos da água, que chamava
de nenufdreni; e nos da terra, que denominava de pigmaci.
Além disto admitia a realidade das
dríadas, a que atribuía o nome de durdales, e dos espíritos familiares ( os deuses penates dos
romanos), que alcunhava de flagae. Afirmou também a existência do corpo astral do homem, que
chamava de aventrum, e do corpo astral das plantas, a que deu o nome de leffas.
Do mesmo modo, tratou profundamente da levitação, que por ele foi chamada de mangonaria,
e muito especialmente da clarividência, que denominava de nectromantia.
Acreditava nos duendes,
nos fantasmas e nos presságios. Este último particular tem prejudicado sobremodo a fama de
Paracelso, mas, quem sabe se dentro de um futuro não muito distante não servirá para admirá-lo
como um visionário que se antecipou às afirmações feitas pelos modernos metapsiquistas
comprovadas por esses investigadores do Maís-Além.
Seu Arquidoxo Mágico, livro sobre amuletos e talismãs, é também muito interessante, de
vez que nele expõe seu conhecimento da imensa força do magnetismo. Combinou metais debaixo
de determinadas influências planetárias, com o objetivo de fabricar talismãs contra certas doenças,
sendo que o mais eficaz deles é aquele que chama de Magneticum Magicum. Este talismã se
compõe de sete metais (ouro, prata, cobre, ferro, estanho, chumbo e mercúrio) e nele estão gravados
signos celestes e caracteres cabalísticos.
Entendia, também, que as pedras preciosas possuíam propriedades ocultas para curar
determinadas doenças. Os anéis e medalhas em que se montavam ditas pedras levaram o nome de
gamathei. Cada um desses dixes possuía virtudes especiais. Uma de suas pedras preferidas era a
chamada bezoar, que não é oriunda nem das montanhas nem das minas, mas que se forma, no
estômago de certos animais herbívoros, por crescimentos justapostos e concêntricos de fosfatos de
cálcio, que o estômago não conseguiu expulsar.
Suas opiniões a respeito das pedras preciosas foram adotadas pelos membros da Rosa-Cruz, que
elaboraram as interpretações físicas e espirituais dos poderes misteriosos do diamante, da safira,
da ametista, do topázio, da esmeralda e da opala. (Laszlo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário